Friday, September 29, 2006

Chuva

13/09/2006

Cai,
Gélida e cruel, sobre o meu corpo morto,
Arrastando consigo as memórias do passado
E as esperanças de um futuro que nunca virá.
Molha o meu corpo e foge com a minha alma,
Levando, entre o sangue e a lama,
As cinzas do meu espírito vencido.

Fria e impiedosa, cai sobre o meu corpo,
Para arrefecer o meu corpo ainda morno
E cortar o calor do meu sangue.
Cai, para me sepultar num túmulo molhado,
Oculto aos olhos dos homens,
Escondido dos filhos do mundo,
Guardado pela mente de Deus.

Cai sobre mim, suave e pesarosa,
Como se os próprios céus chorassem a minha morte
E a natureza me lamentasse.
Inunda o mundo que me rodeia,
Desfazendo em água a história da minha vida
E os traços incompreensíveis da minha alma.

E o mundo passa, frio e indiferente,
Sem compreender que a chuva, que os molha,
Que inunda as suas vidas
E que percorre o seu mundo,
É a mensageira da minha memória,
A protectora dos meus sonhos perdidos,
A voz da minha alma destruída,
Morta na aurora da inocência,
Silenciada
Pela crueldade do mundo.

O mundo passa,
Mas não compreende
Que, ao aniquilar o meu corpo,
Me preserva consigo para sempre.

Cai, carinhosa e doce, sobre o meu corpo morto,
E leva nos seus braços a minha alma,
A mensagem da inocência destruída...

O mundo que passe...
Os homens que esqueçam...
A natureza lembrará para sempre!

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