Friday, September 29, 2006

Mortalitas


10/09/2006

Deusa negra da loucura e do sono infinito,
Que caminhas pelas estradas do mundo,
Arrastando atrás de ti
O sopro de vida dos teus escolhidos,
Indiferente a todos os pedidos de mais tempo
E a quaisquer súplicas por misericórdia...

Senhora sombria do nada eterno,
Que governas a vida para além da vida,
O infinito vazio
Que se segue à existência...

Morte, que passas entre os homens,
Detém os teus passos
E, por um momento,
Dirige para mim o teu olhar vazio.

Enquanto outros te pedem que os poupes,
Eu estou aqui e peço-te que me leves!
Enquanto os homens te imploram mais um dia de vida,
Eu peço-te: nem mais um instante!
Enquanto eles te pedem
Que os deixes viver o que ainda não viveram,
Eu imploro-te,
Ajoelhada perante a tua grandiosa presença,
Que não me obrigues a suportar mais um segundo
Daquilo que vivi.

Eles pedem-te a vida,
O futuro.
Eu peço-te o descanso, o eterno nada,
A morte.
Contudo, quando passas,
Nem te dignas dirigir-me um breve olhar.

Porque me negas?
Se eu te venero, se te adoro...
Se te peço que olhes para mim?
Porque me recusas a tua paz?

Se eles te pedem mais um dia de vida,
Se não entendem como é belo o que prometes,
Então deixa-os ficar, por mais um dia,
Na futilidade da sua vida inútil,
E leva-me a mim,
Que te espero,
Que te quero,
Que te desejo!

Leva-me nas tuas asas de noite
E deixa-me flutuar no vazio!

Deusa negra, amada senhora,
Toda-poderosa morte,
Deixa-os ficar,
Porque eles não sabem como és bela!

Deixa-os, por um momento,
E aceita-me.
Leva-me contigo,
Porque te amo como eles nunca saberão!

Olha para mim...
Estende-me os teus braços...

Leva-me contigo para o infinito!

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