Saturday, October 17, 2009

Borboleta de Cristal

Sei que não sou ninguém
E que o silêncio que paira nas asas da minha missão
É somente um fragmento de vidro no diáfano
Que contempla as cintilações do ser.

Crisálida dispersa no coração de um crepúsculo estéril,
Sei que sou feita de nada e de vazio
E o rubro cristal que alimenta os meus olhos
Com o gesto das marés que fustigam a minha costa
Não é mais que o farfalhar das folhas sob o meu torso
De borboleta mutilada.

Sei que não tenho brasão
E que o meu estandarte é o eco do sonho sepultado
Por dentro dos labirintos do corvo
E a mão que me abraça é também o amplexo da névoa
Que me estrangula em dedos de penumbra.

Sei que não sou ninguém…
Mas tenho em mim a trindade dos anjos exilados,
A malícia que desabrocha no olhar dos condenados
E o conflito da renúncia a uma nobreza morta
Para me abrir os portões da última muralha
E entrar num grito aos céus do infinito
Pela estrada da morte que se enrosca nos meus braços.

1 comment:

Heduardo Kiesse said...

leio-te com atenção
pois aqui as palavras são premiadas!

beijos