Friday, February 10, 2012

Desafio

Podes dizer ao mundo que não viste dignidade
Nos traços da minha voz
E falar-lhes de silêncios e palavras repetidas
Que outros mil cantaram antes de mim.
Podes erguer-te com a glória do fundamento secreto
Que te apoia sem sequer saber que existes
E invocar as regras da tua divindade
Para crucificar cada imagem que um dia criei.
Podes até invocar perante os altares da justiça
O peso das minhas falhas,
O sussurro vulnerável da minha consagração
E contar que são memórias as fantasias que trago
No sangue que me manchou a breve imagem
De uma pureza para lá da redenção.

O que não podes é calar o grito
Que aflora ao sangue das minhas horas vãs
E silenciar a vida que me invade
Em cada madrugada de palavras.
Podes dizer-lhes que eu não valho nada,
Mas não podes parar a minha voz.

Por isso vem! Invade o que quiseres
E deixa que os teus actos glorifiquem
O nome que tu não tens,
Que a censura que instalaste proclame a insanidade
Da tirania que pretendes em ti.

Mas ouve e sabe que o tempo não morre
E que os deuses verão nascer o dia
Em que o meu nome estará no fim da terra,
Talvez frio,
Talvez morto de renúncia,
Mas capaz de prender nos céus do imenso
A certa glória de não ser como tu.

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