Friday, February 17, 2012

Liberatrix

E se ela perdesse as flechas da voz distante
E o sorriso dos silêncios
Que dormiam na placidez da aurora
Como anjos no rosário da eternidade?
Se ela apagasse a poesia das horas completas
E fugisse no vazio
Para não voltar a estender os véus do regresso?
E se ela esquecesse o altar onde foi sepultada
E o nada lhe abraçasse a pele
Como ondas de fogo embalando uma estátua de sal
Com carícias olhando os filhos mortos
Na noite das muralhas destroçadas
Pelo cântico de mil soldados sem império?

E se ela morresse na síntese do olvido?

Se os seus lábios se calassem entre a bruma,
Erguer-se-iam memórias dos túmulos esquecidos
E corpos renasceriam de entre as ondas
Para abraçar o murmúrio dos mistérios primordiais.
Cantariam os mortos a memória do seu sangue
Com hinos à austeridade do crepúsculo final.
Sangrariam os dedos da noite em homenagem à hora
Em que a mais divina entidade morrera
E as manhãs desfaleceriam em miragens de eclipse.

E se, ainda assim, o tempo não ouvisse
E a vitória recusasse o calor do seu abraço
Aos exilados de quem ela era rainha,
Nasceriam então asas nas planícies desoladas
E todas as vozes se dariam ao abismo
Para ser, no nada, as armas do seu brasão…

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