Thursday, March 29, 2012

Vermelho (I)


Sangra-me os sentidos,
Como se fosses noite devastada
Invadindo os silêncios da minha imensidade,
E toca-me a alma
Como mil mãos que deslizassem
Sobre o meu corpo de impenetrável torpor.
Prende os meus gestos
Na mística miragem do azul rasgado
Dos teus olhos cegos
E penetra no mais recôndito de mim,
Qual luz de abismo
Abandonada aos desertos do olhar.

Sente-me
Em cada grão da poeira de existir
E encontra o meu espírito no teu corpo,
Como uma voz que se envolve,
Sem querer,
Na suave sedução dos meus sentidos,
Espelho de uma imagem sem reflexo
Onde me vejo,
Nua de alma e corpo devastado.

Percorre-me
No ausente labirinto dos meus olhos,
Como lábios de morte
Que me envolvessem no seu êxtase final,
Fúnebre essência de um destino
De eternamente anunciada morte,
Prisão infinita de perene adiamento.

Rasga-me as veias
De onde se esvai o fluido dos meus sonhos
E abre aos desertos nadas do meu nada
O secreto sentido do meu ser,
E beija o sangue que sai do meu corpo,
Qual melodia de alma estilhaçada
Feita de miríades de vidro
E escuridão.

Sangra-me cada sopro de vontade,
Cada desejo de indefinição,
Cada palavra que me brota da alma
E se arrasta nas trevas do infinito…

E leva,
Na absoluta submissão do eterno nada,
Aquilo que foi teu, porque roubaste,
A rasgada paixão que condenaste…
A minha redenção…
…que profanaste.

1 comment:

Filipe Campos Melo said...

encarnada a palavra que sangra
como verso de vidro

Sempre um prazer te ler

Bjo.