Friday, May 25, 2012

Resignação


Venho trazer-te o que é meu.

Um violino onde a noite chora em cordas de diamante
Planando sobre as arcadas de um profeta enlutado
E um corvo que em silêncio fita as chamas devoradoras
Dançando sobre as palavras que semeou sobre o papel.

As portas do sangue ao corpo e à morte em mim.

Venho estender no teu altar a toalha da minha pele
Mutilada pelos cinzentos da resignação total
De quem morre sob a sombra de uma rosa apodrecida
Que foi verso abençoado por todas as cortes do céu
Mas que morre entre as miragens de um olhar exilado.

E o cântico à cruz onde dormem os meus braços
Sangra dentro de mim como um gotejar de labirintos
Por onde o sonho se esvai em carrilhões de loucura
Traçados sobre a canção da pomba sacrificada.

Venho deixar-te o que fui.

Para que encontres no cadáver da entidade que voou
O eco dos espelhos mortos na cintilação do absurdo
E o sonho desvanecido em pétalas de renúncia
Onde as lâminas compõem o macabro da sinfonia
Que se estende ao compasso no final das minhas veias.

Fechados os olhos da esperança à morte do ideal.

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